Passiflora edulis f. flavicarpa (Passifloraceae)

Quem não conhece o maracujá amarelo?
Suco de maracujá, sorvete, mousse com licor …
é uma planta maravilhosa, tanto na culinária como na fitoterapia, pois quem nunca ouviu falar que maracujá acalma a ansiedade?!
Mas receitar remédio não é minha praia.
Vamos falar de ecologia. Vamos falar da polinização dessa espécie magnífica, que tem uma das flores mais bonitas que conheço (se não for a mais bela, na minha opinião)….

O maracujá ocorre naturalmente nas regiões tropicais e subtrapicais das Américas.
O nome vem do Tupi, que significa “alimento que já vem na cuia”.
É muito cultivado no Brasil, principalmente em SP, Ba, Se e MG.
A flor é bastante peculiar. Tem características melitófilas.
Se abre durante o dia e oferece pólen e néctar ao polinizador.
A flor do maracujá tem uma estrutura chamada de androginóforo, que, basicamente, é uma coluna formada pela junção da parte feminina com a masculina da flor.
Então, nesse androginóforo, teremos os estigmas e os estames inseridos numa única coluna.
Seguindo para a base do androginóforo (acompanhe pelo esquema acima) vemos uma câmara nectarífera, onde o néctar fica acumulado.
Outra particularidade muito linda nessas flores são as franjas, chamadas de corona (nada a ver com o vírus, ok?).
Servem para a atração das abelhas, por se assemelharem com as anteras de pólen. Mas, lembre-se, não são anteras, nem têm pólen.
(Seria uma espécie de fake news vegetal para os polinizadores levando-o a acreditar que há muito pólen ali, mas, na verdade, as coronas são pétalas franjadas).
Note o posicionamento das anteras, voltadas para cima, expondo o pólen e os estigmas intercalados, também para cima, favorecendo a polinização no momento da visita da abelha certa.
Não é qualquer abelha que consegue alcançar essa câmara com néctar. Para conseguir esse recurso, esse inseto tem de ser forte, robusto, pesado. Tem de forçar a entrada. Somente abelhas grandes fazem esse movimento com o corpo, inserindo a “língua” ali na entrada da câmara para sugar o néctar. Nesses movimentos a mamangava fica com o dorso todo cheio de pólen. Ao voar para outra flor, deposita o pólen das suas costas no estigma daquela flor e recebe dela nova carga polínica.

Essas abelhas são as mamangavas do gênero Xylocopa. No caso aqui, os polinizadores são as espécies Xylocopa frontalis e Xylocopa grisences.

A cultura de maracujá movimenta a economia do país e essas abelhas de hábito solitário são as responsáveis pela formação dos frutos, tão apreciados por todos nós.
Considerando a especialidade dessas abelhas em polinizar o maracujá, fica claro a necessidade de se preservar as florestas de entorno, onde essas abelhas constroem seus ninhos. É imperativo utilizar práticas sustentáveis no controle de pragas para a conservação e manutenção dessas importantes abelhas.


Saiba mais:
BENEVIDES, C.R. 2006. Biologia Floral e Polinização de Passifloraceae Nativas e
Cultivadas na Região Norte Fluminense-RJ. Tese apresentada ao Centro de Biociências e Biotecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ecologia e Recursos Naturais (ênfase em Ecologia de Organismos).
SIQUEIRA et al., 2009. Ecologia da polinização do maracujá-amarelo, na região do vale do submédio São Francisco. Rev. Bras. Frutic.,31 (1): 1-12. Jaboticabal. https://doi.org/10.1590/S0100-29452009000100003