MANACÁ-DE-CHEIRO

Brunfelsia uniflora (Pohl) D. Don

família Solanaceae

Nomes populares – manacá-de-cheiro, manacá, caá-gambá, cangambá, geretataca, jasmim-do-paraguai, mercuri, romeu e julieta, entre outros.

Brunfelsia uniflora é uma espécie nativa do Brasil, da Mata Atlântica. É um arbusto muito ornamental, com flores vistosas e perfumadas. A cidade de Curitiba, Pr, tem a flor do manacá como Flor-Símbolo da cidade pois a espécie é muito usada para fins paisagísticos naquele município.

A palavra Manacá vem do Tupi em homenagem a uma linda indígena chamada Manacan. Nas tribos da Ayahuasca o manacá é considerado uma planta sagrada sendo utilizada em cerimônias e rituais, uma vez que o chá das folhas  tem ação psicoativa, podendo causar delírios, tremores, alucinações.

É um arbusto perene, ramificado, lenhoso, que atinge até 3 metros de altura.

arbusto fotografado por mim em um terreno de rua na cidade de Rio Claro/SP

A floração ocorre na primavera-verão (outubro a fevereiro).

As flores do manacá-de-cheiro têm forma de tubo (tubular), vistosas e solitárias. Apresentam perfume  intenso por todo o tempo de vida da flor. São de coloração roxa ao se abrirem e, ao longo do tempo, vão se tornando claras até chegarem ao branco.

Saliento aqui que o arbusto não produz dois tipos de flores, uma roxa e uma branca. Não. Toda flor que se abre é roxa. Ao longo do tempo vai se tornando branca. Por isso é comum encontrarmos no mesmo arbusto flores das cores que vão do roxo ao branco, passando pelo rosa e tons dessa paleta. O visual é incrível!

QUAL É O MISTÉRIO DA MUDANÇA DE CORES DAS FLORES ❔

Essas mudanças de cores das flores que acontecem em muitas espécies de plantas geralmente têm ligação com o tipo de polinizador. É, portanto, um atributo ecológico, relacionado à atração do agente que realiza a polinização.

Pelo fato dessas flores apresentarem no centro um pequeno orifício que conduz a um tubo que, por sua vez, precisa ser percorrido para chegar ao néctar (recurso alimentar) não é qualquer inseto ou ave que conseguirá realizar com sucesso a coleta do alimento oferecido. Borboletas e mariposas têm o aparelho bucal (probóscide) apropriado para entrar por esse pequeno furo e alcançar, lá embaixo, o néctar acumulado.

veja a probósces toda enrolada. Quando a borboleta vai coletar o néctar no interior do tubo ela desenrola essa peça bucal e suga o néctar. Com isso realiza a polinização de muitas espécies de plantas.

As flores do manacá-de-cheiro fornecem néctar como recurso alimentar ao polinizador. São visitadas por borboletas durante o dia e, mais à tardinha e noite, por mariposas. É, portanto, uma espécie que chamamos de psicófilas (polinizadas por borboletas) e esfingófilas (polinizadas por mariposas).                  

De acordo com os pesquisadores Filipowicz e Renner (2012), o Manacá-de-cheiro é provavelmente uma espécie cujas flores podem estar na transição de um sistema de polinização por mariposas e de polinização por borboletas. Isso porque apresentam atributos de atração de borboletas (psicófila) pela coloração chamativa e das mariposas (esfingófilas) pelo intenso perfume exalado ao anoitecer.

fonte: https://sites.unicentro.br/wp/manejoflorestal/9457-2/. Mariposa Sphingidae/Lepidoptera

De fato, as mariposas geralmente dependem dos perfumes para localizar as flores no escuro e a longa distância, enquanto que borboletas diurnas utilizam a visão para encontrar flores de cores fortes.

A seguir posto um vídeo produzido pela mestranda Julia Mendonça de Almeida, da UERJ/RJ apresentado no Congresso Internacional de Sustentabilidade, em 2020. Na ocasião a Julia era orientada por mim e pelo Dr Ygor J. Ramos no Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Quem tiver interesse em ver detalhes da constituição química dos odores produzidos pelo manacá e da biologia floral assista ao vídeo abaixo.

Saiba Mais:

ALMEIDA, J.M.; GOBATTO, A.A.; RAMOS, Y.J. ESSÊNCIA E PIGMENTOS COMO ATRATIVOS PARA POLINIZADORES EM DUAS ESPÉCIES DE BRUNFELSIA L. (SOLANACEAE). Congresso On-line Internacional de Sustentabilidade. Um olhar sobre os ODS. 2020.

FILIPOWICZ, Natalia e RENNER, Susanne S. Brunfelsia (Solanaceae): A genus evenly divided between South America and radiations on Cuba and other Antillean islands. Molecular Phylogenetics and Evolution, v. 64, n. 1, p. 1–11, 2012.

 https://www.queplantaeessa.com.br/manaca-brunfelsia-uniflora/

Publicado por Alexandra Gobatto

Bióloga, Doutora em Ecologia da Polinização e Biologia Reprodutiva. Produtora de conteúdo científico digital.

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