Pitanga: florada, polinização, autoincompatibilidade e como garantir mais frutos

Arvore de pitanga em rua de cidade
árvores urbanas de pitanga

Eugenia uniflora L. (Família MYRTACEAE)

As pitangas fazem parte de nossa história, da infância, das estrepolias da criançada em comer as frutas direto do “pé de pitanga”.

A pitangueira é uma joia nativa do Brasil — perfumada, generosa e cheia de segredos biológicos. E um dos mais fascinantes é que ela não se autofecunda: precisa de polinizadores e de outra pitangueira por perto para produzir frutos com abundância. É nesse ponto que a biologia floral brilha e explica por que algumas árvores carregam frutos e outras não.

A pitanga é da espécie Eugenia uniflora L. da família botânica Myrtaceae. Essa família é bastante importante no Brasil, porque abriga centenas de espécies nativas e aparecem naturalmente em muitos biomas, como cerrado, mata atlântica, restinga e matas mesófilas de interior. As pitangas também são presenças constantes em áreas cultivadas, parques, jardins e nos quintais verdes de casas nas cidades.

ramos repletos de flores de pitanga
Flores de pitangueira (Eugenia uniflora) em detalhe, mostrando pétalas brancas e muitos estames com anteras cheias de pólen, estrutura típica da família Myrtaceae.

FLORES X FENOLOGIA

As flores da pitanga são pequenas, hermafroditas, de 5 pétalas brancas, com muitos estames e anteras cheinhas de pólen. Por isso são conhecidas como “flores-pólen” porque o pólen é a única recompensa floral oferecida ao polinizador.

Quando estão na natureza, as pitangueiras iniciam  floração anualmente, na transição da estação seca e início da chuvosa.

Minha estagiária do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Amanda Nascimento, em 2019/2020 realizou um estudo no arboreto do JB, na área da restinga, intitulado “ESTUDO FENOLÓGICO DE UMA POPULAÇÃO DE Eugenia uniflora L. (MYRTACEAE) CULTIVADA EM ÁREA DE RESTINGA NO ARBORETO DO JARDIM BOTÂNICO”.

O estudo revelou que a população de pitanga cultivada no arboreto do Jardim Botânico floriu nos meses de julho, agosto e setembro. A frutificação aconteceu nos meses de setembro e outubro. Por meio de análises pedológicas vimos que a composiçao do solo da restinga do JB é diferente da do solo da restinga natural. Logo, essa composição no Jardim Botânico favoreceu a presença de nutrientes disponíveis para as árvores de pitanga, que floresceram mais e melhor quando comparado com estudos em áreas de restinga natural do Rio de Janeiro. Assim, a composição do solo e a pluviosidade são importantíssimos para a boa floração da pintangueira.

AUTOINCOMPATIBILIDADE

Por que minha pitangueira não dá frutos? 😥

Porque sendo uma espécie autoincompatível ela precisa do polinizador na área para realizar o processo de polinização, levando a fertilização e produção dos frutos e sementes. Sem abelhas, sem pitangas.

Isso significa que a flor não aceita o próprio pólen. Ela precisa do pólen de outra pitangueira, trazido por abelhas.

 🌳Uma pitangueira sozinha quase sempre produz muito pouco. Isso acontece porque sendo autoincompatível, quando a polinização acontece entre flores do mesmo pé, poucas sementes serão formadas pela ação da autoincompatibilidade. É genético!
🌳🌳Duas pitangueiras ou mais, de matrizes diferentes, garantem grande produtividade de frutos!!. porque aqui há a polinização cruzada, que é obrigatória nessa espécie.

Antese Diurna – Quando chega a época de florescimento, a pitangueira literalmente “explode” em flores abertas ao mesmo tempo, em sincronia com outras árvores de pitanga, sendo o conjunto uma festa de alimento para a fauna visitante. As flores se abrem (antese) no período diurno e duram um único dia.😮

flores abertas da pitangueira

Pela quantidade de pólen produzido, as flores atraem inúmeros visitantes:  abelhas, moscas, besouros e até formigas-leão, do grupo dos neurópteros.

E em meio a tantos visitantes, qual espécie é a grande polinizadora? 🤨
POLINIZAÇÃO
Apis mellifera L. abelha de mel, africanizada.

Se você pensou na abelha-de mel – Apis mellifera – acertou em cheio!!!

abelha de mel
Apis mellifera L. abelha de mel

Essas abelhas são constantes visitantes das flores da pitanga, coletam pólen para levar alimento para suas larvas nas colméias. Com isso, polinizam as flores que a partir da fertilização desenvolvem frutos e sementes. As abelhas-de-mel (africanizadas) são as polinizadoras efetivas da pitanga.

Então é fundamental a presença da abelha de mel na polinização da flor da pitanga pois ela é de polinização cruzada obrigatória.

De acordo com a literatura científica, temos os seguintes polinizadores:

  • Abelhas melíferas (Apis mellifera) — visitantes frequentes e os mais eficientes.

  • Moscas-sirfídeas (Diptera: Syrphidae) — importantes, especialmente em dias mais frios ou nublados.

  • Abelhas nativas pequenas (Halictidae) — também  polinizam, mas com menos eficiência.

A ciência mostra claramente que sem insetos não há frutos: flores isoladas do vento não frutificam. Ou seja, é uma espécie claramente melitófila, ou seja, polinizada por abelhas!.

frutos de pitanga em vários estágios de desenvolvimento
Frutos de pitanga maduros e em desenvolvimento. Vermelhos e brilhantes, nativos da Mata Atlântica e outros biomas brasileiros
Hummm que cor linda!!
A fase de frutificação começa entre setembro e novembro.
CURIOSIDADE 

Um fato curioso é que quando cultivadas nas cidades, com rega regular, as árvores entram em floração mais vezes ao ano, pois recebem água com frequência.

ECONOMIA

O cultivo da pitanga movimenta bastante a economia agrícola. São frutos que tem muitas vitaminas, principalmente a C e outros componentes antioxidantes ótimos para a saúde. Não é difícil encontrarmos sucos, sorvetes, geleias e produtos derivados dessa frutinha linda e saborosa, a pitanga, formada graças a polinização das abelhas, principalmente da Apis mellifera.

suco de pitanga
Suco de pitanga
SAIBA MAIS

https://revistas.anchieta.br/index.php/revistaargumento/article/view/490/420

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