Caryocar brasiliense Cam. Família CARYOCARACEAE

Caryocar brasiliense é o nome científico do pequizeiro, árvore símbolo do bioma Cerrado, especialmente no planalto central brasileiro.
O pequizeiro pode atingir mais de 10 m de altura. Não quer dizer que toda árvore de pequi é assim alta. Algumas são baixas, e há, inclusive, a variedade de “pequi-anão”, que falarei dela em outro post.
O aspecto principal do pequizeiro é o de possuir o tronco e ramos bem retorcidos e o caule com a casca bem espessa. Essas características são muito comuns na flora do Cerrado, conferindo a esse bioma uma aparência de vegetação “seca”, o que faz com que seja desdenhado muitas vezes por pessoas que ignoram a riqueza da biodiversidade que o Cerrado abriga.

Quando floresce o pequi?
O aparecimento das flores se dá na estação seca, entre julho e outubro aqui no Hemisfério Sul, sendo os meses de agosto e setembro o pico da floração. Portanto é na estação seca que podemos observar as flores do pequi.
Devido à forma das flores, a organização dos órgãos reprodutores, horário de abertura, recursos oferecidos, como néctar e polinizadores observados em atividade, a flor do pequi é considerada quiropterófila, ou seja, polinizada por morcegos.
As adaptações das flores aos morcegos são interessantíssimas e vou descrevê-las a seguir.
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As flores do pequi são grandes e hermafroditas. As pétalas são carnosas, de coloração creme.

A abertura dos botões, também chamada de antese, ocorre a partir das 18:30h e as flores ficam abertas por toda a noite. Pela manhã já estão murchando e cessa a produção de néctar, o qual, aliás, é produzido desde a antese em grande quantidade mesmo!
A partir da abertura, a flor exala forte odor adocicado, enjoativo ao olfato humano.
A flor do pequi é típica para a polinização por morcegos. É do tipo aberta, não profunda e tem aspecto de pincel, por conta do efeito dos seus 400, 500 estames por flor, ficarem expostos lembrando aquele objeto. Observe:
Flores
As flores do pequi são consideradas grandes. Apresentam os dois sexos na mesma flor, portanto são hermafroditas ou monóclinas. As pétalas são carnosas, cor creme. A abertura dos botões (antese) se dá por volta das 18:30h e as flores ficam abertas por toda a noite. Cada flor dessas produz entre 350 a 500 estames (filamentos reprodutivos masculinos, veja no post em que falo sobre Polinização). O comprimento deles varia de 50 a 60 mm e o pólen produzido é leve, pulverulento (como pó).

Em relação aos estiletes (parte do órgão reprodutor feminino), estes são em número de 4 por flor, na média. Na ponta de cada estilete há uma zona receptora de pólen chamada estigma, capaz de recepcionar o pólen ali depositado e permitir sua germinação, para que o gameta masculino encontre o feminino lá embaixo, no ovário. Se você não se recorda desses nomes-chaves da morfologia de uma flor, vá ao post “Qual a Idade das Flores” , que explico lá as partes direitinho.Cada inflorescência do pequi tem cerca de 14 flores, que ficam projetadas na copa da árvore, expostas e fáceis de serem vistas.

Pela manhã, as flores estão murchando e cessa a produção de néctar, o qual, aliás, é produzido desde a antese em grande quantidade, mesmo! A partir da abertura, a flor exala um forte odor adocicado, enjoativo para o padrão humano.
Todas essas características relatadas fazem parte de adaptações evolutivas das flores polinizadas por morcegos. A esse tipo de polinização chamamos de QUIROPTEROFILIA.
Outros visitantes das flores
Apesar da flor ser polinizada por morcegos, sua forma aberta e acessível acaba por atrair muitos visitantes noturnos, entre eles vários tipos de mariposas, dos mais diferentes tamanhos. E pela manhã, por conta das flores ainda terem pólen residual e néctar que sobrou da noite agitada pela fauna ávida por comida, é possível observar beija-flores, abelhas, vespas, mas sem nenhum papel na polinização do pequi.
MORCEGOS POLINIZADORES
Quando falamos em morcegos, é comum as pessoas associá-los a seres maldosos, que vagueiam pela noite em busca de sangue. Tanto que no imaginário humano foram escritos inúmeros filmes e livros de terror, como Drácula e, mesmo, o heroi solitário e antissocial Batman.

Mas, na verdade, os morcegos desempenham um papel ecológico extremamente importante, sendo a maioria das espécies composta por polinizadores e dispersores de frutos e sementes de muitas plantas de vários ecossistemas.
No Brasil, temos cerca de 180 espécies de morcegos, sendo apenas 3 hematófogas, ou seja, dieta à base de sangue animal. São encontrados em áreas florestais, zonas agrícolas e também urbanas.
A espécie de morcego descrita em estudos como polinizadora principal do pequi é a Glossophaga soricina, conhecido como “morcego-beija-flor”, uma vez que paira em frente às flores, como fazem os beija-flores. São morcegos bem frequentes e assíduos, realizando a polinização através de seu comportamento de coleta do néctar. Eles são morcegos onívoros, ou seja, dieta variada à base de néctar, pólen, frutos e insetos.

O G. soricina tem o comportamento de coletar néctar em bandos. Chegam às árvores em números altos, de 5 a 30 indivíduos. Muitos estudiosos dizem que esse comportamento favorece a polinização cruzada, e evita o depósito de pólen no estigma de flores da mesma inflorescência, o que não é muito interessante do ponto de vista genético da árvore em questão. No entanto, pode acontecer do G. soricina também “trabalhar” sozinho, principalmente se estiver em plantas que produzem poucas flores, portanto, alimento escasso. Daí ele pode ter comportamento territorialista e “brigar” com outros morcegos que se aproximarem de suas flores.
Outras espécies de morcegos também podem polinizar a flor do pequi, mas de forma menos frequente. É o caso dos morcegos das espécies Phyllostomus discolor, mais assíduos depois de G. soricina; Anoura geoffroyi, preferencialmente insetívora, mas apresentam comportamento nas flores considerado pelos especialistas de bastante eficaz que é o de pairar sobre as mesmas, como fazem os morcegos de G. soricina. Vampyrops lineatus, é bastante visto em áreas urbanas, Carollia perspicillata, representantes encontrados principalmente em área de mata ciliar e mais raros no cerrado.
Após a polinização bem sucedida os frutos e sementes são formados, fazendo do pequi um importante ativo socioeconômico regional.
SAIBA MAIS
Dissertação de Mestrado de Rogério Gribel, INPA, 1986. https://repositorio.inpa.gov.br/bitstream/1/38181/1/Rog%c3%a9rio%20Gribel.pdf
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