
Para quem acompanhou a COP30 – que ocorreu de 10 a 25 de novembro de 2025, em Belém do Pará, Brasil – ouviu e leu muito a palavra Bioeconomia. No entanto, essa palavra surgiu pela 1a vez na década de 70, pelo menos há 50 anos atrás, introduzida pelo matemático romeno Nicholas Georgescu-Rogen, com definição próxima a atual.
A economia que nasce da natureza
Bioeconomia não é moda. É ciência aplicada + conhecimento tradicional + inovação ecológica.
É o conhecimento que une Biologia e Economia, propondo modelo de desenvolvimento. Em essência, é a utilização sustentável dos recursos biológicos (biomassa, organismos vivos, ecossistemas) para gerar produtos, processos e serviços de alto valor agregado.
O objetivo principal é SUBSTITUIR a dependência de recursos fósseis (não renováveis) por soluções baseadas na vida, garantindo o crescimento econômico e a harmonia com a preservação ambiental e o bem-estar social.
E pela primeira vez, na COP30, os países reconheceram publicamente que não existe transição climática sem Bioeconomia. Ou seja: sem Amazônia, sem Cerrado, sem povos tradicionais, não há futuro climático possível.

1. O que a ciência define como Bioeconomia?
A literatura científica trata Bioeconomia como: “O conjunto de atividades econômicas baseadas no uso sustentável e renovável de recursos biológicos para gerar valor, inovação e bem-estar, sem exaurir a base ecológica.”
Os pilares científicos são:
1.1. Renovabilidade 🔁
Uso de recursos que se regeneram — frutos, sementes, resinas, óleos, biomassa, microrganismos.
1.2. Baixo impacto⬇
Processos que não degradam o ecossistema e mantêm as funções ecológicas (polinização, ciclo hidrológico, dispersão, serviços do solo).
1.3. Regeneração 🕳🔄
Mais do que “usar sem destruir”: é usar melhorando a floresta, como fazem muitas comunidades extrativistas tradicionais.
1.4. Ciência + saber local – Etnobotânica
A Bioeconomia brasileira integra biotecnologia, ecologia da polinização, agroecologia, etnobotânica e manejo comunitário.
2. Exemplos concretos de Bioeconomia no Brasil (com base científica)
2.1. Castanha-da-Amazônia

A castanha do Pará, como é conhecida, tem o nome científico Bertholletia excelsa Bonpl., da família Lecythidaceae.
Pesquisas mostram que a coleta de castanha mantém a floresta em pé, gera renda e depende diretamente da polinização por abelhas grandes da tribo Euglossini e Bombus, uma vez que é uma espécie autoincompatível e depende da polinização cruzada para frutificar. Entenda melhor acessando o vídeo https://shre.ink/qy2T
2.2. Açaí nativo
O ouro roxo da Amazônia.
A produção extrativista tradicional é sustentável, movimenta bilhões e depende de abelhas nativas sem ferrão para frutificar bem.


A polinização aumenta a produtividade do açaí em até 40%, afirmam estudos.
2.3. Andiroba e Copaíba
São espécies de árvores altas, que contêm fármacos naturais de alto valor em indústrias de cosméticos, fitoterapia e biotecnologia. Na medicina, estudos destacam a presença de moléculas com propriedade anti-inflamatórias e cicatrizantes.


2.4. Agroflorestas e sistemas agroecológicos
Conectam, mesclando no plantio, árvores nativas com cultivares e regeneração do solo.

Nesse sistema há aumento comprovado por estudos na infiltração da água no solo, nutrientes, retorno da fauna local e estabilidade climática na região.
2.5. Meliponicultura (abelhas sem ferrão)
Criação de abelhas sem ferrão.


As abelhas sem ferrão são grandes polinizadoras de muitos cultivares e espécies nativas. Utilizadas na produção de frutos, como morangos, pimentão, entre outros, aumentam a produtividade, o peso e o teor de nutrientes.
Estudos mostram que o mel de meliponídeos tem propriedades antibacterianas superiores ao de Apis mellifera.
3. O que a COP30 trouxe de importante para a Bioeconomia?
A COP30 (que ocorreu em Belém, Brasil) virou a chave mundialmente para uma economia baseada em biodiversidade — não em monoculturas.
As principais conclusões científicas e políticas:
3.1. Países reconheceram oficialmente que biodiversidade é infraestrutura do clima
- Sem polinizadores, não há comida.
- Sem floresta, não há chuva.
- Sem funcionalidade ecológica, não há agricultura.
3.2. “Bioeconomia da sociobiodiversidade” virou termo oficial
O Brasil puxou e venceu a disputa: sai a economia baseada em biomassa industrial, entra a bioeconomia da floresta, da cultura local, da regeneração.
3.3. Financiamento climático direcionado para biomas tropicais
A COP30 abriu caminho para novos fundos internacionais que financiam cadeias produtivas extrativistas, meliponicultura, manejo comunitário e agroflorestas.
3.4. Acordo sobre monitoramento de polinizadores 🦋🦇
Em reuniões paralelas, pesquisadores pressionaram por:
- programas nacionais de monitoramento de polinizadores;
- integração entre clima, agricultura e biodiversidade;
- incentivo a pesquisas sobre perda de habitat e controle de pesticidas.
4. Como a bioeconomia se conecta com polinização?
-
75% das culturas alimentares dependem de polinizadores.
-
No Brasil, abelhas nativas respondem por até 90% da polinização de espécies nativas.
-
PFNMs da Amazônia (castanha, açaí, cupuaçu, bacaba…) dependem de polinização entomófila especializada.
Ou seja: sem abelhas, não existe bioeconomia brasileira.
Conclusão: a economia que o Brasil precisa abraçar – Bioeconomia
A bioeconomia brota aqui, em terras brasileiras. Do chão, da floresta, do Cerrado, das abelhas, das pessoas.
E quando o Brasil abraçar isso com ciência e planejamento, virará potência mundial sem precisar derrubar mais nada.
Saiba mais:
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA. Produtos da sociobiodiversidade e cadeias extrativistas na Amazônia.
Disponível em: https://www.gov.br/inpa
SciELO Brasil. Polinização e produtividade de Euterpe oleracea Mart. (açaí) em sistemas extrativistas.
Disponível em: https://www.scielo.br
ResearchGate. Chemical and pharmacological properties of Carapa guianensis (andiroba).
Disponível em: https://www.researchgate.net
Academia.edu. Stingless bee honey: antimicrobial properties and potential uses.
Disponível em: https://www.academia.edu
Embrapa Amazônia. Sistemas agroflorestais e serviços ecossistêmicos.
Disponível em: https://www.embrapa.br
COP30 – Documentos oficiais e sínteses científicas. Bioeconomia da sociobiodiversidade como eixo estratégico para a transição climática.
Disponível em: https://unfccc.int
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